13 de janeiro de 2008

Continuando com...Miguel Torga



Lembrança


Ponho um ramo de flores

na lembrança perfeita dos teus braços;

cheiro depois as flores

e converso contigo

sobre a nuvem que pesa no teu rosto;

dizes sinceramente

que é um desgosto.


Depois,

não sei porquê nem porque não,

essa recordação desfaz-se em fumo;

muito ao de leve foge a tua mão,

e a melodia já mudou de rumo.


Coisa esquisita é esta da lembrança!

na maior noite,

na maior solidão,

vem a tua presença verdadeira,

e eu vejo no teu rosto o teu desgosto,

e um ramo de flores, que não existe, cheira!


Miguel Torga


Lisboa, Cadeia do Aljube, Natal de 1939

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