14 de janeiro de 2008

O Grãozinho Transviado





Ao ensacarem o grão
Para ir para o mercado,
Um deles caiu no chão
-E ficou abandonado.

Era muito rechonchudo,
Mas tinha a pele em ruguinhas;
Junto do nariz bicudo,
Fazia mesmo preguinhas.

Ao ver-se no chão sòzinho,
-Meu Deus, o que ele sentiu!-
Mas quem se importa, grãozinho,
Com aquele que caiu?...

«Para que foi que nasci ?»
Dizia em voz abafada,
«Se agora estou para aqui...
Se não sirvo para nada?...

«Até me custa dizê-lo:
-Se vem a Dona Humidade,
Nasce-me na testa um grêlo,
E não tenho utilidade!»

Nisto um senhor a pé passou,
Que pisou o senhor grão,
E muito fundo o enterrou,
Sumindo-o dentro do chão.

Acabou-se! era uma vez!...
Pobre grãozinho, coitado!
Ficara morto e enterrado?
-Isso imaginam vocês!

Pois nesse lugar, um dia,
Surgiu um rebento verde...
Na terra tudo se cria;
Na terra nada se perde.

Para quê descrer da sina?
Se tais coisas acontecem?
Se, por bondade divina,
Até as pedras florescem?!

Laura Chaves
(meu livro de leitura 1962)

1 comentário:

Anónimo disse...

que bom foi reler essa bela poesia, que relembro dos meus tempos de menina...
que saudade