O cisne deu três voltas no seu lago,
Engomava o silênco liquefeito...A curva do pescoço, sobre o peito,
Tinha a doçura branca dum afago
De mão que desconserta a simetria...
Contam que Zeus, um dia,
Num desejo de amante insatisfeito,
Se vestiu da ilusão daquelas penas...
Quem me diz que a divina fantasia
Não encontrou a porta de saída,E o cisne que ali passeia a vida
É um Júpiter de Atenas!...
Coimbra, 7 de Março de 1953
Miguel Torga
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