10 de outubro de 2007

ATRAVÉS DA GUINÉ

RECORDAÇÕES
Toda a terra é coberta do verde brilhante de uma paisagem luxuriante que mergulha as raízes no lodo, ramarias que não param de subir, nem cansam de sugar a humidade quente. Por toda a parte , num largo redor, sobre matagais de capim, cerradas filas de esguias palmeiras ondulam leques de plumagem verde, esculpindo no ar abafado o recorte impecável das suas palmas.
Toda esta exuberância de vegetação brota espontâneamente, exceptuando as plantações de milho, arroz, mancarra e algumas árvores de fruto, quase tudo propriedade do indígena, que utiliza pequena parte desta produção, destinando o resto ao comércio.
Logo em Mansoa começam os arrozais, campos enormes encharcados, onde se enterram negras até aos joelhos, envoltas no pano azul, bagá, com os seus negritos às costas, metidos no bambú.
Caminhamos agora entre cerradas florestas na estrada que nos conduz a Farim. Encontramos a tabanca de Cótia onde balantas e oincas cuidam da lavoura, e pouco depois estamos em Mansabá. Floresta, sempre floresta, quasi sempre espessíssima, virgens de pegadas humanas, onde vivem, entre outros, o poilão gigante, o pau mangue, o mogno, o cibe, árvores da borracha e incenso, outras vezes de bambus, que erguem sobre a estrada lindos toldos verdejantes.
À medida que o nosso jipe avança e o ruído do motor perturba a paz da floresta, soltam-se das altas copas bandos de pombos verdes, rolas cinzentas, periquitos verdes e amarelos. Adiante do jipe esvoaçam bandos de galinholas e perdizes e encontramos por vezes, verdadeiros exércitos de macacos, que debandam aos guinchos, trepando pelas árvores como que a queixarem-se - malandros ! - e sem ninguem lhes fazer mal.
Depois de algumas horas, de jipe, por estrada que não tem fim, através da floresta da Guiné, as nossas pupilas fatigam-se da insistência monótona da sinfonia verde, e as nossas pálpebras descaem na sonolência febril que nos ilumina, povoando a estrada de visões a cores.
Que saudades!

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